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Apelo
Dalton Trevisan
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa.
Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde,
esquecido na conversa de esquina.
Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço,
o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou.
A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão,
ninguém os guardou debaixo da escada.
Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo.
Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos.
Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença,
última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem.
Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela,
não lhes poupei água e elas murcham.
Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada.
Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora,
conversar com os outros: bocas raivosas mastigando.
Venha para casa, Senhora, por favor.
Tenham uma ótima semana!
beijos,
neli